Eles jamais se viram. Entre eles, há sempre um teclado, um monitor e milhares de quilômetros de fios. Não são do mesmo bairro, nem da mesma cidade, do mesmo estado ou do mesmo país. Não são do mesmo continente, nem mesmo do mesmo hemisfério. Se amam sem mesmo nunca terem se tocado.
Cada um tem (tinha) sua própria vida bem delineada e programada. Projetos de felicidade. Vidas tranquilas e bem projetadas, mas agora vem aquela sensação de que faltou o bolo da festa. Estavam confortavelmente acomodados, talvez. Talvez faltasse a paixão. Talvez não faltasse nada. Nunca saberão.
Mas eles continuam assim, se amando com letras e pensamentos, linhas e entrelinhas. Sabem que o outro sempre estará lá, para dividir tristezas e multiplicar aqueles sorrisos dados sem que se note. A vida continuou complicada, mas sempre que podem se acariciam com palavras. Palavras de amor, de amizade, de tesão, de esperança.
Ele tem o Sol, ela é a Lua. Revelaram um ao outro segredos inconfessáveis. Giravam cada um em sua órbita particular até que se encontraram. Eclipse total. Alinhamento perfeito de planetas, regentes e estrelas. Eles tem signos que se completam: é o amor perfeito descrito pela astrologia.
Algum dia ainda se encontrarão. Olhos nos olhos. Não se sabe ainda como será, muito menos quando. As previsões mudaram um pouco de uns tempos pra cá. Mesmo que seja a distância, ele precisa vê-la. Necessita dela. Ele sabe que não continuar seu caminho sem olhar, mesmo que uma única vez, em seus olhos. Talvez se abracem, como se fossem velhos amigos. Uma desculpa qualquer será inventada depois. E naquele abraço estará a vontade de uma vida inteira juntos, irá conter um amor maior que toda a distância e circunstâncias que os separam.
Ah, mas se puderem, se beijarão, e muito. Sentirão enfim os 5 sentidos básicos. Poderão se olhar nos olhos. Sentir o cheiro um do outro. Seus corpos irão se encontrar e ter a certeza de que não foi um sonho. Vão trocar juras de amor, as mesmas juras já feitas com todos os pontos de exclamação e reticências que eles merecem. E sentirão, enfim, o gosto de suas bocas, misturados talvez com algumas lágrimas de felicidade. E ela sabe, e ele sabe, depois disso eles vão querer mais. Mais visão, audição e olfato. Muito mais tato e paladar. Sentem que são pólos opostos de um ímã poderoso. Não conseguirão se afastar.
Se por algum motivo não puderem se falar, ele sabe que mesmo assim ela irá sorrir, e colocar a cabeça um pouco de lado como ele acha que ela faz. Ela sabe que ele estará com aquela carinha de moleque, os olhos brilhando. Alguém vai morder o lábio. Irão procurar rotas de fuga. Conversas telepaticas inundarão o ambiente.
Mas mesmo se não conseguirem nada disso, continuarão a se amar. Sem restrições. Amor-bom, realidade inventada. Eles tem a certeza que a procura terminou, mas precisam continuar suas vidas. Pelo menos por enquanto, os eclipses acontecem apenas na frente do monitor.
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