Num desses dias que a gente chega acabado em casa, depois de um dia realmente exaustivo, ela me recebeu só de toalha e com os cabelos molhados, recém saída do banho. Seus olhos me transmitiam uma paz difícil de descrever, e os pés descalços no tapete davam a ela ares de menina. E como eu gosto de vê-la assim, tão humana. No abraço apertado que ela me deu, molhando meu rosto e o ombro da minha camisa, pude sentir o tamanho daquele amor e o quanto eu preciso dela para poder ser feliz. Já aprendi que devemos depender de nós mesmos para construir um caminho de felicidade em nossas vidas, mas o sorriso dela tem algo de mágico, e esse cheirinho de banho tomado me tras uma sensação tão caseira e rotineira que já fazem parte de mim.
Um beijo. Mais um abraço apertado. Ela dá pulinhos de alegria em me ver. Toma minha mão e me leva até o sofá e faz com que eu me sente. Sobe em cima de mim e me beija novamente, bagunçando meu cabelo. Diz que quase morreu de saudades, que eu devia trabalhar menos. Que poderíamos viver só de amor, com uma mochila nas costas e uma estrada pela frente, para corrermos o mundo de mãos dadas, sem se importar com ninguém. Diz isso em tom de brincadeira, pois sabe que eu não hesitaria muito em fazer tudo que ela me pede.
Ela se levanta e me diz que hoje a noite será especial, e me preparou uma surpresa. Se levanta rápido e deixa cair a toalha, enquanto vai até a cozinha. Algumas imagens ficam para sempre guardadas em compartimentos invioláveis da nossa memória, e esse momento é um deles. Ela sabe que eu a amo inteira e de qualquer forma. É um amor incondicional, construído a base de centenas de horas e milhões de caracteres digitados para tentar expressar meus sentimentos. É um daqueles amores que a gente sente que sempre existiu, mas que não havíamos prestado atenção. É procurar a vida toda por alguém assim, exatamente como ela. E ela sabe, eu amo demais, e vê-la indo para a cozinha assim, nua, me deixa sem fala. Ela sabe, e adora me provocar.
Quando volta, trás uma champagne em uma das mãos e um pote com morangos na outra. Volta pro meu colo e me serve de uma taça. Morde um morango e me dá metade. Digo que a amo, e ela responde sorrindo e sabe disso. E ficamos assim entre morangos, champagne, beijos, saliva e mordidas por um longo tempo. Quando ela me olha o tempo parece que flui mais rápido. Distorções temporais, causadas por esse amor atemporal.
Ela desliza para o chão e tira meus sapatos. Diz que quer me deixar bem relaxado e faz massagens nos meus pés, se divertindo com minhas cócegas. Nossa conversa mistura banalidades do nosso dia com juras de amor e palavras carinhosas. Amor-calmo e rotineiro. Mas as mãos dela passeiam pelas minhas coxas e o amor torna-se urgente. Agora é ela que se senta na beirada do sofá e faz com que eu fique de pé na frente dela. Diz que quer me olhar, tocar, sentir. Suas mãos deslizam pelo meu peito já livre da camisa. Abre minha calça e sua mão avança sem-vergonha para minha bunda. Beija minha barriga, morde por cima da cueca e me puxa pra cima dela.
Então se dá mais um daqueles momentos inesquecíveis. Ela me abraça com ternura e me olha com firmeza nos olhos. Algo me diz que tenho que parar de beijá-la e esperar. Ainda tenho o gosto da sua boca na minha e continuo sentindo seu cheiro de banho tomado. Meus dedos estão enroscados em seus cabelos e percebo que seus olhos tem um brilho incomum. Lágrimas pequeninas brotam de seus olhos, mas ela não está triste. Algo muito importante vai acontecer. E sem esperar mais do que deveria, sem criar um suspense desmedido, me diz: "Amor, casa comigo?".
Nesse nosso amor sem momentos específicos, o tempo é muito relativo. Caso. Casaria. Casarei. Mas eu não preciso dizer uma só palavra para que você saiba minha resposta. Meu sorriso perplexo misturado com minhas lágrimas de felicidade falam por mim. Você sabe da resposta. Sempre soube. E sabe também que, mesmo que tanta coisa tenha mudado, a minha resposta permanece a mesma. Intocada. Intocável.
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