Quando abri os olhos você estava lá, docemente enroscada nos lençóis bagunçados. Um oceano de cabelos escorria pelo travesseiro e desaguava perto do meu rosto, trazendo teu doce perfume para perto de mim. Você estava com uma expressão de alegria cansada, iluminada pelos tímidos raios de sol que invadiam em frestas o quarto e repousavam na cama. O barulho era mar. Gaivotas. E só.
Com os olhos fechados pisquei uma, duas vezes. Você continuava lá, pertinho de mim, à distância de um beijo. Como ontem quando apareceu no meio da noite, feito fada, sussurando obscenidades na minha mente. E com um olhar me hipnotiza e paraliza. Esses olhos de magia infinita. E dançou, só pra mim.
Sentado naquele nosso sofá branco, eu assisto enquanto ela desliza na minha frente, sobre pétalas de rosas vermelhas que estão por toda parte. Os sons dos violões e das castanholas parece que fluem dela e eu sinto as notas tocando meu corpo quando ela levanta as mãos acima da cabeça e roda. E dança. Me seduz. Sabe que meus desejos e sentidos são todos por ela. Seus olhos multicoloridos me encaram com carinho e com tesão, e eu derreto por dentro quando ela chega perto de mim.
Você se mexe na cama e eu volto pra minha realidade inventada. Eu não sei onde estamos, mas imagino. Pouco importa se é meu ou teu, importa que tudo tem o nosso cheiro. Cheiro do meu corpo junto com o teu. Teu corpo.. teu corpo... E essa tua expressão calma de agora em nada se parece com teu rosto na noite de ontem enquanto eu te despia com os olhos.
Bem que ela me disse que as dançarinas de flamenco terminam suas apresentações no colo de seus amantes. Só não citou que estaria completamente nua. E ela sabe que eu adoro quando ela agarra meus cabelos e diz autoritária: "Você é meu. E eu, sempre sua". E mergulha sua língua na minha boca sem pudor. Me beija e me morde sem medo de machucar, diz gemendo no meu ouvido que dor de tesão é gostosa.
E naqueles momentos em que o desejo é mais forte que a consciência, lembro que me levantei com ela ainda agarrada em mim e a joguei em cima da mesa. Copos, vasos e garrafas rodopiaram e ganharam o chão. Violeiros imaginários assistem a tudo impassíveis, mas entendem a urgência do momento e tocam com mais força, mais alto. Eu preciso sentir o gosto daquele sexo com a mesma intensidade que ela precisa sentir minha boca. Arqueia o corpo, aperta os seios, morde os lábios...
Me empurra. Seu rosto mistura tesão e sorrisos. Escorrega lânguida e agora de pé, fica de costas pra mim e apóia as mãos na mesa. Arrebita sua bunda e seus olhos me convidam por sobre os ombros. Ela. Você. E te como, segurando firme sua cintura e assistindo seu rebolar sensual. E te fodo, puxando seus cabelos e escutando teus gritos. E te amo, gozando junto com você, com seus seios em minhas mãos.
Não sei onde foi parar a música. Não sei de onde veio essa cama. Olhando agora para esse quarto, não vejo a mesa. Nos nossos sonhos-verdade, ainda somos dominados pela magia. Você acorda do teu sono e a primeira coisa que vê é minha boca. E leva sua mão até ela, pra saber se é real. Teus olhos acompanham o caminho dos teus dedos que acariciam meu rosto. Barulho de mar. Gaivotas. E um sorriso brota dos teus lábios.
|